Todos os anos, milhões de pessoas são expostas aos perigos dos extremos de calor e ondas de calor que podem ser letais. Em 2017 aconteceu um aumento de mais de 18 milhões de exposições a ondas de calor de pessoas vulneráveis em relação a 2016. As ilhas de calor, criadas em centros urbanos densamente povoados, com telhados escuros, asfalto e outras infraestruturas, tendem a concentrar o calor solar e impedir sua dispersão.
No relatório do Lancet Countdown Brasileiro constatou-se que as ondas de calor em 2014 e 2015 no Brasil duraram mais tempo que nos anos prévios. O aumento da temperatura e as ondas de calor afetam mais os idosos, gestantes, crianças, atletas e pessoas com doenças crônicas. No Brasil entre 2000-2015 a associação entre temperatura e hospitalizações variou conforme a duração da exposição ao calor, mas também por sexo, idade e região. Se um paciente apresenta estresse por calor, o diagnóstico rápido e o resfriamento efetivo são cruciais para evitar a evolução para a insolação, que pode evoluir para lesão irreversível ou morte.
O estresse por calor e insolação
O estresse ou exaustão pelo calor é uma doença leve a moderada devido à perda de sal e água durante a exposição ao calor e a falha de mecanismos termorregulatórios fisiológicos para compensar o aumento da temperatura corporal devido a temperaturas elevadas, esforço físico ou metabolismo.
Já a insolação é caracterizada por uma temperatura corporal central ≥ 40 °C com disfunção do sistema nervoso central. Pode progredir para falha do sistema de múltiplos órgãos. O médico deve sempre suspeitar de insolação, principalmente após atividade física em ambiente vulnerável ao calor excessivo, quando o paciente apresenta pele quente, alteração da consciência, hipotensão, hiperventilação, náusea ou diarreia.
Os fatores de risco para qualquer doença relacionada ao calor incluem:
•Fatores demográficos/ Baixo status socioeconômico;
• Idade (crianças e idosos), principalmente pacientes acamados;
• Sistema de ar condicionado inadequado ou inexistente;
• Atividades ocupacionais ou recreativas que exijam exercícios extenuantes em ambientes quentes e/ou úmidos (por exemplo, agricultores, trabalhadores ribeirinhos ou da floresta, atletas, bombeiros, militares), quanto maior a umidade relativa do ar, maior a vulnerabilidade ao calor;
• Doença mental
Algumas medicações podem afetar o mecanismo de adaptação ao calor como:
• Antiadrenérgicos e betabloqueadores podem diminuir o débito cardíaco;
• Anticolinérgicos e antidepressivos tricíclicos podem alterar a eliminação de suor e os antidepressivos tricíclicos podem alterar a termorregulação central;
• Anti-histamínicos e agentes antiparkinsonianos podem causar inibição do mecanismo da sudorese;
• Antipsicóticos podem inibir o mecanismo de sudorese e causar a síndrome Neuroléptica Maligna, sendo que o calor pode agravar este sintoma;
• Simpaticomiméticos (são substâncias que imitam os efeitos do hormônio epinefrina (adrenalina) e do hormônio/neurotransmissor norepinefrina (noradrenalina) ) podem causar desidratação e hiponatremia.
A urgência e o nível de tratamento são ditados pela gravidade da doença.
Para casos de estresse por calor leve:
• Observação em ambiente fresco/arejado e a hidratação pode ser apropriada para jovens adultos saudáveis com exame físico normal;
• O resfriamento pode incluir a movimentação para uma área mais fria próxima, removendo o máximo de roupas possível ou o resfriamento ativo (como áreas ventiladas ou aplicação de material frio ao corpo);
• Hidratação para restabelecer o volume circulante e promover a transpiração.
Para sintomas moderados a graves (como insolação ou estresse por calor grave):
• Comece o resfriamento assim que a via aérea, a respiração e a circulação tiverem sido estabilizadas;
• A imersão em água fria é o método de resfriamento preferido, porém deve-se estar atento para o fato do efeito de queda contínua da temperatura central mesmo após o paciente ser removido da imersão. Para prevenir a hipotermia iatrogênica, os pacientes devem ser removidos do banho de gelo quando sua temperatura central atingir 38,3 °C;
• Em atletas, a imersão em água fria está associada à mais rápida taxa de resfriamento e à menor morbidade e mortalidade;
• Considere toalhas/lençóis encharcados de água gelada combinados com bolsas de gelo na cabeça, região inguinal, axilas e extremidades quando a imersão em água não estiver disponível;
• Administrar fluidos por via oral e/ou intravenosa (a via é determinada pela capacidade do paciente de tolerar líquidos orais) para restabelecer o volume circulante e promover a transpiração;
Prevenção e ações para mitigar os efeitos das ondas de calor
Nas cidades devemos incentivar os administradores a investir em um urbanismo sustentável para diminuir o efeito de ilha de calor, principalmente investindo em áreas verdes , pois o asfalto quente e o concreto por toda parte só aumentam a sensação térmica.
Devemos nos informar e aumentar a nossa consciência sobre os fatores de risco, sinais, sintomas e tratamento do estresse por calor, da mesma forma devemos alertar pessoas próximas sobre o risco do calor excessivo do corpo.
Devemos compreender e estarmos cientes dos perigos e das ações preventivas que podemos tomar para reduzir os riscos durante eventos de calor extremos.
Em relação à prevenção de recorrência, devemos estar atentos e realizar recomendações para pessoas que já tiveram um evento de insolação pelo risco mais elevado de um novo evento, bem como pessoas com alto risco como atletas, idosos, crianças e pacientes com doenças crônicas
No mais, hidratação e muita atenção aos dias de calor intenso são a melhor forma de prevenirmos problemas relacionados ao calor.
Fonte Adaptada e revisada :Rbmfc