Pedalar por 1200 km levando uma pessoa pesada na garupa já seria algo difícil para um ciclista profissional . Se acrescentarmos a isso o fato da bicicleta não ser de corrida, ter também uma mala pesada , em tempo de bloqueio de coronavírus, você ser apenas uma menina de 15 anos e sem dinheiro para comer,  bem, ai essa viagem já virou uma saga épica.

Pois foi justamente o que aconteceu com a menina Joyti Kumari de 15 anos e seu pai Mohan Paswan na India.

Mohan Paswan trabalhava em Gurugram , como motorista de e-riquixá – tipo um triciclo motorizado, muito comum na Índia – e sua família morava em Bihar, distante aproximadamente 1200 km.

O medo de passar fome provocou um êxodo de centenas de milhares de trabalhadores migrantes e suas famílias de volta às suas aldeias no mês passado, muitos a pé. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 400 milhões de indianos que trabalham na economia informal estão se aprofundando na pobreza durante a crise causada pela pandemia Foto: PRAKASH SINGH / AFP

As coisas não estavam indo bem para Paswan, mesmo antes da pandemia. Em janeiro, ele se envolveu em um acidente de trânsito enquanto trabalhava . Sua filha, que abandonara a escola um ano antes por causa dos problemas financeiros da família, decidiu viajar para cuidar do pai ferido.

Quando o bloqueio ocorreu devido ao Coronavirus em março e Paswan não conseguiu ganhar a vida, o proprietário do imóvel onde ele morava cortou a eletricidade e ameaçou expulsá-los do apartamento.

“Em meio à situação sombria, Jyoti sugeriu que voltássemos para casa. Salientei que não conseguiríamos encontrar nenhum trem ou ônibus em breve e minha condição não me permitiria andar. Ela disse que deveríamos pegar uma bicicleta”, disse Paswan.

Ele ficou sem palavras com a sugestão da filha de levá-lo para casa de bicicleta, pois seria algo totalmente descabível. Mas, diante da situação em que estavam e sem outro recurso, cedeu a insistência de Jyoti . Com 20 dólares que ainda lhe restavam compraram uma bicicleta roxa e começaram a jornada.

Jyoti disse que pedalava por quase 100 km todo dia e dormiam em postos de combustíveis,onde as pessoas ajudavam com agua e comida e em alguns lugares, os motoristas de caminhão lhes davam carona até onde podiam.

“Era insuportavelmente cansativo. Parávamos para dar uma mordida rápida em lugares onde estavam distribuindo comida para pessoas como nós” e continuávamos , lembrou a garota.

Enquanto desciam as longas estradas sob o sol escaldante, muitas pessoas ainda zombavam deles, dizendo que era ridículo uma garota pedalar enquanto o pai estava sentado atrás na garupa.

“Papai ficou chateado quando ouviu essas coisas, mas eu disse a ele para não se preocupar, pois as pessoas não sabiam que ele estava ferido”, disse Jyoti a um entrevistador da publicação indiana The Wire .

Foto reprodução : Joyti e o pai / twitter @RSPRASAD

Nos telefones celulares emprestados, Jyoti tranquilizava sua mãe preocupada: “Não se preocupe, eu vou levar papai para casa.”

Fiel à sua palavra, Jyoti e seu pai chegaram em casa 10 dias depois .

Depois que a imprensa descobriu a história e a mídia indiana a apelidou de “Jyoti, o coração do leão”, as coisas mudaram um pouco para a família.

A adolescente foi contatada por Onkar Singh, presidente da Federação de Ciclismo da Índia, pedindo que ela fizesse um teste para a seleção nacional .

Jyoti, se tornou uma heroína em sua aldeia, entusiasmou muitos corações. Um grupo de pessoas da região lhes deu 5.000 dólares em dinheiro para custear o tratamento do pai e auxiliar nas despesas.

Um alto funcionário do governo local disse: “Quando a quarentena terminar, definitivamente ajudaremos Jyoti”. Ele disse que, para começar, o governo do estado garantiria sua admissão na escola e também a ajudaria financeiramente.

Sem dúvida uma menina de coragem e determinação.

Fonte : The Wire






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